COMO UMA DEUSA
As divindades da mitologia grega revelam muito da alma feminina. Descobrir a sua deusa regente pode ajuda-la a valorizar seus poderes.
Os gregos antigos queriam entender tudo neste mundo – até a alma feminina. Para tanto, recorriam às deusas do Olimpo, com suas histórias fantásticas de poder, paixão, desencontros, vingança, intriga e sensualidade. Mais de 3000 anos depois, Atenas, Ártemis, Hera, Deméter, Perséfone e Afrodite continuam sintonizadas com os mistérios femininos. Perceber qual rege sua vida pode ajuda-la a avaliar as forças (e as fraquezas) do seu jeito de ser.
“As deusas falam direto ao coração, rompendo defesas de forma sutil e inteligente”, diz a psiquiatra e psicoterapeuta Neusa Steiner, que durante sete anos usou a mitologia grega com grupos de mulheres. Ela lembra que nem sempre é fácil identificar a divindade dominante. “Às vezes, duas brigam para ganhar o trono.” Pode ocorrer também de uma deusa apagada vir à tona numa fase da vida. A psiquiatra Jean Shinoda Bolen, autora de “As Deusas e a Mulher”, afirma que Deméter sempre aflora na maternidade, ainda que a mulher em questão seja uma Ártemis, que pouco valoriza a gravidez.
ATENAS, A GUERREIRA
Atenas teve um parto dramático. Ela nasceu adulta da cabeça de Zeus, o todo poderoso, com uma lança nas mãos e emitindo um grito de guerra. Não tinha consciência da figura da mãe e, por isso, nunca ficou muito à vontade no mundo feminino. Era conselheira de homens heroicos. Foi ela, por exemplo, quem ajudou Perseu a vencer a Medusa oferecendo-lhe um escudo de bronze polido, em que ele podia ver a imagem da monstra refletida sem encara-la e petrificar-se. Atenas é protetora das artes, da tecnologia, das civilizações e das atividades intelectuais.
A MULHER ATENAS:
É estrategista e prática por natureza, mais razão do que emoção. Centrada, move-se por seus desejos e não pelos dos outros. Dá o sangue pelo trabalho e pouca atenção ao corpo – a não ser quando adoece.
ATENAS E OS OUTROS:
Gosta de companheiros com quem possa compartilhar ambições e lutas. Homens sonhadores e sensíveis a irritam. Também sente atração por figuras que lembram o pai. O casamento não é um objetivo de vida. Vale mais como uma sociedade lucrativa para os dois. Tem uma ou outra amiga íntima.
DESAFIOS:
Racional ao extremo, em geral não dá muita atenção ao sentimento alheio. Intimida os outros e é capaz de gelar uma conversa por ser extremamente crítica. Desconhece o lado criança e, por isso, ri, brinca e chora pouco. “Esse tipo de mulher precisa ouvir o coração e aceitar ser mimada e acariciada”, diz Neusa Steiner.
ÁRTEMIS, A INDOMÁVEL
Filha de Zeus, líder do Olimpo, e de Leto, divindade da natureza. Mal nasceu, ajudou a mãe a fazer o parto do irmão gêmeo, Apolo. Defendia as mulheres com sua flecha certeira e era indomável, principalmente quando se via livre na floresta. Conhecida como deusa da caça e da lua.
A MULHER ÁRTEMIS:
Independente, faz o que lhe dá na telha. Tem uma ideia clara de justiça e vive defendendo os fracos e oprimidos, especialmente as mulheres. Adora a natureza e os animais. No trabalho, é concentrada e competitiva.
ÁRTEMIS E OS OUTROS:
O casamento não consta dos seus planos, porque lhe poda a liberdade. Se acontecer, será baseado na amizade. Ártemis não suporta homens que insistem em domina-la. O sexo é visto como uma aventura. A gravidez, porém, pode ser repugnante a essa mulher, que gosta de passar uma imagem vigorosa. Faz amigos com facilidade.
DESAFIOS:
Ela foi chamada de “A distante”, já que parece impermeável. Vai atrás de seu objetivo – a caça – sem ver nada pela frente. “Como não houve ninguém, tende à solidão”, afirma a terapeuta Neusa Steiner. Com a idade, e depois de ter alcançado suas metas, às vezes percebe que precisa tanto de intimidade quanto de independência.
HERA, A ESPOSA
Mulher legítima de Zeus, era a deusa do matrimônio. Foi diversas vezes traída pelo marido, que a deixava doente de ciúme. Sua raiva, porém, não caía sobre Zeus, mas sobre as amantes, ainda que seduzidas, estupradas ou enganadas, e sobre os pobres filhos bastardos.
A MULHER HERA:
Ela quer, acima de tudo, casar. Tem necessidade de um compromisso mais sério e faz da família tradicional o centro da sua vida. É leal e fiel, mas pode ser extremamente vingativa diante de uma perda ou traição. Tem autoridade, um perfeccionismo extremo e uma energia de “dama de ferro”, que domina todos à sua volta. Só aceita trabalhos em que possa liderar (ou, então, servir de conselheira para um marido poderoso).
HERA E OS OUTROS:
Sempre escolhe homens bem de vida, que possam lhe garantir posição de destaque. Exige deles lealdade e disposição para vencer, o que nem sempre ocorre. Divórcio, porém, nem pensar! Vê o sexo como papel de esposa e dá pouca importância às amizades – a não ser que sejam fundamentais ao casamento.
DESAFIOS:
Dependente do retorno do marido, corre o risco de se tornar uma megera ciumenta e possessiva. “Nesse sentido, seria bom resistir ao casamento até que conhecesse melhor o parceiro”, sugere Jean Shinoda. Tem sucesso garantido quando investe sua força e capacidade de liderança no trabalho.
DEMÉTER, A MÃE
Sua história se mistura com a da filha. Perséfone. Quando a filha foi raptada, Deméter fez de tudo para resgata-la, sem sucesso. Desesperada, entrou em depressão e retirou-se para um templo. O resultado foi devastador. Sendo a deusa da fertilidade, tudo parou de nascer até Perséfone ser devolvida ao seu seio.
A MULHER DEMÉTER:
Ser mãe é tudo para ela. Por tabela, qualquer função provedora a completa: ninar, alimentar, ensinar, aconselhar. É vista como mãezona no trabalho, a que cuida sem punir.
DEMÉTER E OS OUTROS:
Atrai homens que buscam uma mãe como esposa. Sua sexualidade não é pulsante. Ela prefere ser abraçada com carinho a viver uma noite de prazer. Junta-se a mulheres que também tem filhos ou um lado maternal latente.
DESAFIOS:
Deméter não sabe dizer não. Acolhe a todos os pedidos, mesmo esgotada, o que pode desaguar num comportamento passivo agressivo, ou seja, deixa de fazer as coisas que lhe pediram para castigar o “explorador”. Quando o marido (ou os filhos) sai de baixo de sua saia, faz chantagem e às vezes cai em depressão, já que se sente inútil. “A mulher Deméter deve atender seus desejos como atende os dos outros”, lembra Neusa Steiner.
PERSÉFONE, A FILHA
Herdeira única de Deméter e Zeus, foi raptada ainda virgem por Hades, que a conduziu ao inferno e a fez sua noiva contra a vontade. Acabou voltando para o mundo superior, mas antes comeu sementes de romã que Hades lhe ofereceu. Esse ato culminou numa ligação eterna com o inferno, o mundo do inconsciente e da introspecção.
A MULHER PERSÉFONE:
Parece bem mais jovem do que é e tem um jeito de menina no olhar. Aceita o destino com paciência, sem grandes rebeldias. Por ser introvertida, às vezes passa a imagem de tímida. Prefere cargos em que não tenha que tomar decisões. Destaca-se em profissões artísticas e esotéricas.
PERSÉFONE E OS OUTROS:
A ligação com a mãe é fortíssima, para não dizer castradora. Os homens que se aproximam (e sempre são eles que tomam a iniciativa) costumam trata-la como boneca, regrando seu modo de agir. A sexualidade fica adormecida até a chegada de um “príncipe”, que a desperta para o prazer. Não gosta de conflitos e usa os talentos mediúnicos para acalmar as coisas. Sua melhor amiga tem, em geral, personalidade forte.
DESAFIOS:
Pe4rséfone sofre para dizer sim. Cumprir compromissos lhe parece um peso. Afinal, tem todo o tempo do mundo para fazer as coisas! “Sua tarefa mais árdua é por os pés na realidade”, afirma a terapeuta.
AFRODITE, A SEDUTORA
A deusa do amor era filha de Zeus e Dione, ninfa do mar. Teve vários pretendentes, todos fascinados por sua beleza. Sua escolha, no entanto, caiu sobre Hefesto, filho rejeitado por Hera e deus defeituoso dos artesãos, a quem traiu inúmeras vezes – inclusive com homens mortais. Alguns de seus filhos fora do casamento foram Fóbos (deus do medo), Eros (deus do amor), Deimos (deus do terror) e Hermafrodito (deus da bissexualidade).
A MULHER AFRODITE:
Tem um magnetismo inato, que atrai os homens e gera insegurança nas mulheres. Gosta de chamar a atenção, é super sensual, espontânea e possui enorme poder de transformação. No trabalho, precisa ter paixão pelo que faz e se aborrece com tarefas repetitivas. Vive o aqui e o agora – o amanhã a Deus pertence.
AFRODITE E OS OUTROS:
Um casamento eterno (e de um homem só) não faz a cabeça de Afrodite. Quando a paixão murcha, ela parte para outra. Tende a escolher parceiros criativos, sensuais, desimpedidos e, às vezes, complicados. Tem mais amigos que amigas, que sentem inveja de seu acesso livre e fácil ao sexo oposto.
DESAFIOS:
Seu instinto sexual e seu desdém pela monogamia nem sempre são bem julgados pela sociedade, e ela pode ser discriminada. A saída é aceitar essa característica sem culpa. Curtir só o presente pode ser um atraso de vida, já que não mede as consequências de um ato impulsivo. “Afrodite precisa parar um pouco e descobrir os desejos da alma”, diz a terapeuta.
Fonte: Revista CLAUDIA/Mônica Manir