OS CAMINHOS DE UMA ESCRITORA
No ano de 2012, quando entrei num programa para parar de fumar, o meu cérebro jamais poderia imaginar uma volta ao passado, e com toda a bagagem e experiência adquirida no decorrer dos anos. Difícil entender? Eu continuo me surpreendendo com as transformações. O médico disse que o meu cérebro oxigenou. Arejou, limpou, voltou a ser jovem, com a mesma determinação que era uma característica da minha vontade. Apaguei as lembranças dos últimos anos de fumante. Guardei em uma cápsula e abri o velho baú de madeira entalhada, repleto de recordações, planos, projetos e uma vivência feliz e colorida.
E no velho baú eu reencontrei um amor eterno. Tão verdadeiro que jamais será esquecido, viverá para sempre e eternamente. O reencontro me fez recordar de momentos encantadores, e por dias e dias eu acordava, pensava, dormia, sonhava com uma torrente de pensamentos desordenados. Até o dia em que acordei pensando em escrever um livro. Não um livro qualquer, a história de um amor verdadeiro e único.
E durante os dias que se seguiram, eu fui sonhando e escrevendo. Escrevendo e sonhando mentalmente, e a história foi sendo esculpida dentro de mim. E agora? Faço o quê? Nunca em minha vida conseguira escrever os meus pensamentos ou materializar em letras o que acontecia na minha mente. E a dúvida me perseguiu por alguns dias. E ao término de uma reunião de ex-fumantes, comentei com a coordenadora, uma pessoa incrível que me incentivou a escrever o livro, dizendo que ela seria a primeira pessoa a ler. Entregou-me uma pequena mensagem num cartão, que dizia: “Acredite um pouco mais na força de sua própria intuição. Muitas vezes deixamos de realizar algo de bom ou que nos favoreça simplesmente porque achamos tudo muito difícil e por isso nem começamos”. Após a leitura, a decisão foi tomada e eu escreveria o livro.
Por três dias, abria o notebook e ficava olhando para a tela. Criei os personagens e nomeei o elenco. Pesquisei muito para compor os cenários, onde poderia ambientar o romance, e em todos os pequenos detalhes que envolvem a vida das pessoas, e que deveriam constar na história. Mas não conseguia iniciar o texto.
Após um sonho, ao acordar no quarto dia, eu decidi começar a escrever. E depois de toda a minha indecisão, as palavras fluíam naturalmente. Como se eu estivesse habituada a escrever todos os dias.
Fiquei transcrevendo meus pensamentos, por mais ou menos dois meses. Não lembro quantas páginas do Word, mas meu filho disse: não basta, um livro que se preze precisa ter no mínimo 200 páginas. E agora? Retornei ao baú de recordações. E depois de uma noite bem dormida, acompanhada de belos sonhos, eu acordei sabendo o que precisava fazer para concluir o meu livro. Então, eu dormia, sonhava, acordava e escrevia. Enquanto trabalhava, eu pensava no livro. Na rua, na condução, eu pensava no livro. O livro ocupava minha mente 24 horas/dia. E enfim, ficou pronto... E no baú de recordações eu encontrei o título “Ensaios para a lua de mel”.
Até aqui, o meu pensamento era escrever esse livro. Não pretendia escrever outros, ou melhor, sequer havia pensado na possibilidade de me tornar escritora e também não conhecia o mercado literário. Estamos em fevereiro/2013. [Nell Morato/30.06.2014]
PARTE 2
Eu disse em fevereiro de 2013, que não pretendia escrever outro livro. Seria escritora de um só livro. Imagine, eu escritora? Concluíra um romance, melhor parar. Tantas vezes tentara escrever, e não conseguira uma linha sequer. Agora estava com o livro pronto, e sem saber o que fazer. Comentei com amigos o que havia feito e “todos” ficaram interessados, demonstrando uma enorme vontade de ler. Meses depois constatei que era só vontade. E que a tal enorme vontade havia se extinguido.
Fui para a internet em busca da relação de editoras, de Porto Alegre e cidades próximas. Encontrei uma, em que a abertura de seu site, era um convite muito interessante e difícil de recusar. Entrei em contato por telefone, e fui informada de que deveria enviar o manuscrito “impresso”, pelo Correio ou por um portador. Começou mal, deveria desembolsar um valor para as cópias. Resolvi enviar por e-mail, anexando uma mensagem para a pessoa com quem eu havia falado, explicando o motivo da remessa. Disse-me que em 60 dias me daria um retorno. Também, que diante das dificuldades do setor, trabalhavam com escritores que tinham patrocínio ou que pagavam pela edição, e ficava mais fácil a publicação, caso houvesse a aprovação. Aguardaria os 60 dias.
Mas em dois dias, estava eu lá na lista, procurando outra editora. A próxima também tinha uma abertura do site interessante, onde diziam que o objetivo, era publicar livros, visando o retorno financeiro. Entrei em contato por telefone e fui muito bem atendida por uma secretária, para a qual informei do que se tratava e meu telefone, para que o proprietário/editor retornasse a ligação. O que não aconteceu. Aguardei dois dias e liguei. Mostrou-se interessado e pediu o manuscrito por e-mail, o que prontamente enviei.
Passados alguns dias, voltei a telefonar para saber de seu parecer. Disse-me estar interessado, porém não financiava. Deveria eu pagar pela publicação e teria todo o suporte da editora, distribuição, divulgação, lançamento e depois de algum tempo distribuição para venda na internet. Comentei sobre patrocínio e achou que era uma alternativa e pedi então o orçamento. Para editar mil exemplares, deveria desembolsar R$ 16 mil.
Desliguei o telefone e fiquei perdida, sem saber o que fazer. Como conseguir uma verba de R$ 16 mil para publicar um livro e com que tipo de patrocinador? Tratei de listar empresas comerciais que tivessem alguma relação com o enredo. Lembrei-me dos motéis e... Outra lista. Iniciei as ligações. Só iniciei. Porque nunca conseguia passar da recepção. Deixava recado e não retornavam. Falava com gerente, pedia um e-mail com a proposta e não retornavam e quando eu telefonava, nunca encontrava o proprietário. Os dias foram passando... E os meses também. Verba para o livro, não havia conseguido, sequer tinha falado com alguém sobre a possibilidade de patrocínio, em troca de inserção na contra capa, um número a combinar de exemplares para o estabelecimento fazer promoções. Eu telefonava em horários variados e nunca conseguia falar. Durante seis longos meses eu tentei. E não consegui nenhuma resposta negativa, muito menos uma resposta positiva. Sentia-me frustrada.
Mas, no outro dia já estava procurando fabricantes de lingeries. Nova lista... Novas ligações e novas esperanças, e nenhum resultado positivo. Ao mesmo tempo eu continuava procurando outra editora. Telefonei para várias. Aquela primeira editora consultada, respondeu por e-mail, dizendo que o texto não se encaixava no perfil da editora e nem no seu catálogo, composto basicamente de autoajuda.
Depois foram os fabricantes de produtos sensuais, que forneciam para sex shop. Enviava a proposta, muito bem redigida, revisada pelo editor. Ligação telefônica, e-mail e outra vez uma ligação... Nenhuma resposta. Procurei fabricantes de cosméticos e agências de viagem. Nove meses tentando conseguir um patrocinador ou quatro, como sugeriu o editor. O mais incrível é que não ouvi um único NÃO. Nenhuma das empresas que consultei me deu resposta alguma, simplesmente minha proposta foi ignorada.
Descobri que precisava conhecer as pessoas certas, caso contrário seria sempre ignorada. Uma amiga, disse-me que em algum lugar, havia assistido a entrevista de uma pessoa falando de um clube, onde os escritores poderiam publicar seus livros gratuitamente. Só que ela não se lembrava do nome. Lá fui eu... Nova pesquisa na internet. Encontrei o Clube de Autores. Pesquisei, analisei, tinha muitas dúvidas, devo publicar ou não. Eu não conhecia o mercado literário. Eu era apenas uma feliz leitora e sabia onde ficavam as melhores livrarias, bem como os melhores sebos, onde encontrava os livros raros e antigos e outros especiais.
Então, preparei o meu livro para publicar no Clube de Autores. Revisei, reescrevi algumas frases e montei uma capa simples. Baseada no roteiro para publicação do clube, segui todas as etapas e em 31 de outubro de 2013, Nell Morato publicou “Ensaios para a lua de mel” na versão impressa e e-book, no Clube de Autores.
[Nell Morato/10.07.2014]
PARTE 3
Em 31 de outubro de 2013, quando publiquei meu livro no Clube de Autores, me aventurei por caminhos que eu nunca havia percorrido. Abri uma conta no Facebook e no Twitter. Até então, internet era só para pesquisa e correspondência. Optei por um perfil profissional, escritora, e coloquei uma silhueta no lugar da fotografia. Os primeiros dias foram assustadores. Eu não sabia o que deveria publicar, como fazer amigos, e não desejava importar “meus amigos reais”, queria novos, queria outros escritores e pessoas ligadas à literatura e também, desejava futuros leitores para o meu livro.
Não lembro quem foi e como foi o primeiro amigo e/ou amiga do Face. Mas foi tudo muito rápido, e eles foram chegando, eu fui adicionando e, ao mesmo tempo, buscando pessoas desconhecidas e ligadas ao setor. Descobri as páginas, as “Fan Pages”, para conhecimento e informação de produtos e serviços. E depois os grupos. Lembro-me que o primeiro em que entrei foi “Escritores ajudando outros escritores”. E foi marcante, um grupo em que participei ativamente.
Um dos administradores é gaúcho, e eu me senti mais à vontade. Não sou e nunca fui tímida ou retraída. O que acontece é que eu não sabia nada de rede social e muito menos do universo literário. Escrevera um livro, e daí? Não sabia nada e não tinha nenhuma experiência e confesso que não me sentia segura. É preciso conhecer para falar, é preciso conhecer para argumentar, para dar conselhos e dicas, é preciso conhecer para ser ouvida ou, no caso, lida. O que fiz foi uma análise da minha vida até então, recorri ao baú de recordações para saber o que falar e/ou escrever nos grupos, como interagir com as pessoas.
Sobre o universo literário eu aprenderia, buscaria informações para saber onde eu estava me aventurando. E usaria todo o conhecimento já adquirido, “vivendo, lendo e estudando”, que fazia parte da minha vida, do meu dia a dia para interagir com as pessoas, principalmente os jovens que estão em maior número no grupo “Escritores ajudando outros escritores”.
Aos poucos fui aprendendo, descobrindo como tudo funcionava. Encontrei pessoas incríveis, inteligentes, cultas, solidárias, inseguras, ignorantes, egos inflados, idiotas que desejavam aparecer à custa de jovens inexperientes. Encontrei pessoas maravilhosas, escritores, gaúchos escritores, que vivem longe da terra, jovens talentosos, mentes brilhantes.
Encontrei também muitos erros de português. Textos abreviados e palavras primárias, escritas de forma incorreta. Travei algumas batalhas pela língua portuguesa naquele grupo. Fui ameaçada, chamada de orgulhosa e arrogante. Tudo porque eu queria falar e escrever corretamente a língua portuguesa. Outra confusão foi causada por um comentário sobre erotismo infantil. Uma jovem tem uma ideia e o “ajudante” escreve que seria “lindo” um namorico entre crianças de nove anos. Fiquei furiosa, e fui logo escrevendo que era pedofilia, e que estavam erotizando as nossas crianças.
A decisão de revisar para outros escritores foi tomada aí no grupo, diante das dificuldades que alguns enfrentavam. Excelente texto, enredo criativo e língua portuguesa, um desastre. Optei também pelo preço diferenciado, até promocional diante dos preços praticados no mercado.
O Facebook estava sob controle, e eu cuidava também do perfil no Twitter. Enquanto no Face você não tem limitação para escrever, no Twitter são 140 caracteres, uma frase ou duas. E mesmo assim, conseguem abreviar as palavras e escrever palavrões vulgares... Comentei que o Twitter era um esgoto. Mesmo assim eu continuei lá, o objetivo era apresentar meu livro, e encontrei muitos blogueiros. Lembro que próximo ao Natal, enviei para todos os seguidores e outros tantos, mensagem de “feliz natal” com uma imagem anexa, alusiva às festas. Foi surpresa para alguns, gratidão de outros e indiferença de outros tantos. E o bloqueio da minha conta por 48 horas. Dizia o Twitter que eu estava agindo contra as normas. Valeu a pena, consegui mais de 2 mil visualizações no Clube de Autores. O objetivo foi alcançado. Eu só não sabia a vantagem do meu objetivo, simplesmente queria ser vista, ou melhor, meu livro.
O Facebook me proporcionou conhecer muitas pessoas, escritores e poetas. Como o poeta português, que conheci através do Face e me apresentou a poesia. Até então eu não tinha nenhum interesse em poesia, achava tudo muito melancólico. E descobri que tudo é poesia, a vida é uma poesia, eu sou uma poesia. Dezembro/2013
[Nell Morato/16.07.2014]
PARTE 4
Ano novo! Vida nova! Começar um ano e não mudar alguma coisa ou, quase tudo é um desastre para mim. Quando os ponteiros movimentaram-se no relógio, eu já estava planejando muitas mudanças. Janeiro de 2014 ficará marcado para sempre nas minhas recordações, como um mês “surreal”. Nem precisei de muito esforço para fazer alterações, o tempo e as pessoas que deixei ali, na minha vida cotidiana, se encarregaram das mudanças. Muitos acontecimentos, dias encantadores, maravilhosos, tristes, bem como dias apaixonantes, agitados e parados. Dias em que fiquei na janela, esperando a vida passar e outros em que planejava exaustivamente o meu futuro no universo literário. Altos e baixos. Esperar... Tarefa difícil, para quem sempre foi independente ou atravessava montanhas, em busca de seus objetivos. Esperar... É angustiante para quem tem pressa em viver, para quem recuperou suas memórias juvenis, no baú de madeira entalhada.
Criei a Fanpage de “Ensaios para a Lua de mel” em 03 de janeiro de 2014, e a cada trinta dias eu comemoro o aniversário de mais um mês. Faço uma “festa”, bem ao estilo da mulher por trás da escritora. Encerrei as atividades na produção e comércio de bijuterias. O mercado não estava uma maravilha, muito difícil concorrer com os produtos chineses, podem não ter qualidade, mas tem preço atraente e a concorrência se torna desleal. E decidi, então, me dedicar apenas à literatura, revisando textos e escrevendo.
Em janeiro, eu vivi um pouco no paraíso e outro tanto no inferno, mas não vou revelar o motivo, é pessoal e o meu perfil é profissional, desculpem. Apenas descrevo, porque os sabores e dissabores de um escritor são revelados em seus textos. E como não poderia deixar de ser, a poesia abriu caminho e se mostrou... Dolorosa e triste.
Em meio a todos os conflitos que eu vivia no mês de janeiro, me vi envolvida por um turbilhão de acontecimentos literários. Inscrevi-me num concurso em Lisboa, chegou um novo grupo com uma nova proposta de divulgação e vários novos amigos. E entre eles “Cristiane Vilarinho”. Dia 27 de janeiro, ficamos amigas no Face e naquele dia e nos próximos, jamais poderia imaginar, que essa amizade virtual mudaria minha vida. Nunca tive um bom relacionamento com o sexo feminino. Mas parecia que já nos conhecíamos há muito tempo. Às vezes, não é preciso saber o porquê das coisas, é perder tempo, deve-se apenas viver, aproveitar a amizade que aconteceu.
A vida está em constante transformação. E tudo acontece muito rápido, nem temos tempo de nos preparar. Preparar-nos para enfrentar os dissabores e aproveitar os sabores. E aos borbotões tudo vai acontecendo e, muitas vezes, somos levados para onde não queremos ir. Então, voltamos e recomeçamos. O certo, o importante é não perder a liberdade de escolha, a ética e a verdade. Não deixar que nada, nenhum brilho fugaz, lhe tire do seu caminho, da verdade e da transparência de seus atos.
Estou viciada, completamente viciada em literatura. Para quem achava que seria a escritora de um só livro, houve uma grande transformação. Prosa, poesia, crônicas... Quero crescer, muito mais. Ainda não tenho nada, não sou nada, mas como diz certo poeta, “mesmo não sendo nada, já me sinto alguém”!
[Nell Morato/17.07.2014]
PARTE 5
Os caminhos de uma escritora, eu gosto da palavra “escritora”, se escrevo, logo sou uma escritora. Não sou importante, não sou famosa, mas sou uma escritora lida. Meus amigos leem meus textos. Não quero ser importante e muito menos famosa. Sempre lutei por muitas causas, saúde pública, educação, transporte, disciplina, entre outras. Algumas causas são perdidas, e outras, se pode ganhar e o resultado, fazer a diferença na vida das pessoas. No momento, o meu esforço está voltado para a literatura e a língua portuguesa.
Mas, devo voltar ao mês de janeiro e continuar contando a minha trajetória. O mês foi intenso e cheio de novidades, boas e péssimas. Acabou. E fevereiro começou pior. Pensamos sempre, que quando o mês acabar levará junto todos os problemas. Ilusão! Fica tudo aqui, no mesmo lugar, só muda no calendário. E a questão que me incomodava, continuou do meu lado, dia e noite. Como sou uma sobrevivente, da minha antiga vida de turista, consegui burlar a tristeza e me aventurar em desconhecidos caminhos literários, desconhecidos para mim.
Em 12 de fevereiro, escrevi um conto para um concurso em Lisboa, “Seduz-me” com Contos de Sedução, que foi aprovado e incluído na coletânea lançada recentemente, pela Pastelaria Estúdios Editora. Em 01 de março, escrevi uma linda carta de amor para outro concurso em Lisboa, só que para Papel D’Arroz Editora, não ganhei o concurso, mas a carta foi incluída numa coletânea, Cartas de Amor que duram para sempre, já lançada.
Ao mesmo tempo, me aventurei na poesia. Como uma forma de desabafar o tormento, que me acompanhava. Um pouco complicado, porque eu não consigo enganar a mim mesma. Não adianta olhar no espelho e dizer: chega! Agora você vai esquecer isso e aquilo! Vai mudar de vida, vai recomeçar! Não funciona assim. E precisei lidar com o problema, que me seguia por toda a parte. Não estava preparada para tantas novidades ao mesmo tempo. De repente, escritora, rede social, novos amigos, universo literário e a confusão emocional. Aí me convidaram para colaborar com um blog e passei a escrever crônicas, assuntos do cotidiano de todos nós. Gostei muito da experiência, e ao mesmo tempo percebia que a minha vida era interessante, pelo menos até ali. Durante dois ou três meses, eu ficara furiosa, louca da vida com o que estava acontecendo comigo, mas os dias foram passando... E, ufa! Não bati em ninguém, não destruí nada, amassei tudo, muito bem amassado e transformei em energia criativa.
A minha amizade com a escritora Cristiane Vilarinho seguia firme e forte, e elaborávamos projetos literários. No dia 04 de abril, Jorge Marques da Silva pediu para ser meu amigo no Facebook. Aceitei, e curiosamente, quando vi as primeiras postagens dele, da Mundo Produções, acendeu uma lâmpada na minha cabeça: “ele vai editar o meu livro, tenho certeza!” A ideia me pareceu razoável, como uma decisão. Passei a colaborar com o blog dele, postando minhas poesias. Outra pessoa que conheci de uma forma abrupta, no Grupo Escritores ajudando outros escritores, a minha querida amiga Danka Maia, também me convidou para colaborar com o blog dela. Grande escritora e pessoa linda, e além de tudo reside num paraíso, no litoral do Rio de Janeiro.
Entrei em mais um concurso na Papel D’Arroz Editora, “Eu tenho um sonho”. Mas no decorrer do prazo para envio dos contos, a editora me convidou para ser jurada do concurso. Depois de analisar a situação, porque eu teria que desistir da participação do meu conto e apenas escolher o de outra pessoa. Optei em ser jurada. Responsabilidade que ainda não havia experimentado, e que viria a enriquecer o meu currículo. Concluído o concurso, dediquei-me a escrever “Aquela Viagem”, mais um conto da Papel D’Arroz Editora. Tarefa difícil, pois eram muitas histórias fluindo ao mesmo tempo, e não sabia o que deveria ou queria escrever. E a editora mais uma vez decidiu por mim. Convidou-me para incluir na coletânea de “Eu tenho um Sonho”, um conto meu, como jurada, com o mesmo tema. Perfeito! Era a minha trilogia.
Escrevi: uma Carta de Amor, Eu tenho um Sonho e o epílogo, Aquela Viagem. Um tema, uma história, em três partes. Na minha modesta opinião ficou muito bom. Tanto, que foram aprovados pela Editora, e as coletâneas serão lançadas em setembro.
Antes disso, fechei um contrato com Sr. Jorge Marques da Silva e a Mundo Produções, para publicação e lançamento do meu livro, o romance “Ensaios para a lua de mel”. A capa será uma obra de arte do artista plástico italiano, Guido Boletti, que ora reside em Minas gerais. E as coincidências entre nós foram crescendo, a capa representa isso, por isso e por aquilo. Que iremos revelar somente em setembro, quando será o lançamento do romance.
Eu e Cristiane Vilarinho inauguramos um site literário, para lutar pela literatura de língua portuguesa. Literárias Mosqueteiras. Site que falará de assuntos polêmicos, que usará as palavras e o talento de escritores parceiros/colaboradores, para falar a verdade, sem restrições ou censura. Nosso objetivo é impulsionar a literatura, queremos estar nas livrarias e nas casas de nossos leitores. Também, disponibilizamos a história de nossa literatura, para consulta e pesquisa.
Julho foi um mês e tanto. Cheio de emoções e novidades literárias. As escritoras Suely Sette, Vólia Loureiro, Maria Luíza Faria, Cristiane Vilarinho, e eu decidimos abrir um grupo literário no Facebook. Castelo Literário, e a capa é o lindíssimo Castelo de Óbidos de Portugal. Onde estamos desenvolvendo um trabalho mais ao lado dos escritores, comentamos suas publicações e nos disponibilizamos a sanar dúvidas e colaborar no que for necessário, em todos os assuntos relacionados com o universo literário.
É desagradável para o escritor não ser lido. Que o seu texto seja ignorado, então é preciso interagir, ler, comentar, sugerir. Existem as dificuldades para publicar um livro, a maioria dos escritores que conheço na internet enfrenta o problema. Então, pelo menos precisa ser lido. Seus escritos não podem simplesmente ser desprezados. Devem ser apreciados e comentados. É o objetivo do grupo Castelo Literário. E também, criamos o blog com o mesmo nome, para as administradoras publicarem seus escritos pessoais e os contos que escrevem em parceria. Somos princesas, afinal, estamos morando em um Castelo. Temos uma sintonia perfeita e nos respeitamos. Nenhuma decisão é tomada sem a opinião de todas. Somos cinco pessoas diferentes, mas com os mesmos direitos e deveres.
Cheguei em 31 de julho, exatamente nove meses depois de publicar meu livro no Clube de Autores, entrar no Facebook e em outras redes sociais. Aprendi muito no período, mas também ensinei. Trabalhei muito para o meu crescimento literário. Cresci tanto e ao mesmo tempo não cresci absolutamente nada. Quando eu comecei não queria nada, nem pensava em conquistas literárias. Mas, acontecem coisas em nossas vidas que mudam totalmente os nossos planos, ou no caso, nos empurram a fazer planos como uma maneira de sobreviver às dificuldades e dissabores que encontramos em nosso caminho. Sou uma pessoa diferente agora. Ainda a mesma que quer denunciar tudo que está errado, ainda a mesma que usa o senso comum para melhorar o espaço que divide com os amigos, ainda a mesma que quer ajudar a todos. Mas... Alguma coisa mudou. Tenho tanto dentro de mim, que transborda. Que a poesia absorve, mesmo que em determinados momentos nem ela é suficiente. E agora tenho planos. Planos no universo literário para a Nell, meus amigos e outros tantos escritores.
Como escrevi lá no blog Castelo Literário, sou uma romântica rebelde que precisa melhorar muito, muito mesmo, para ser digna do comentário que recebi no site “que sou uma grande escritora”. Queria mesmo era ser feliz, numa linda casinha isolada, vivendo de amor e quem sabe poesia. Terá que esperar, antes preciso trabalhar muito, para me transformar numa boa escritora. E como já assumi muitos compromissos, vamos em frente, porque Nell Morato não abandona os amigos!
Sou eu e a minha pequena história, de como me transformei numa escritora apaixonada pelo amor. Independente das adversidades eu acredito no amor verdadeiro... Como escrevo em meus textos, porque eu não falo do amor de outras pessoas, falo do amor que tenho dentro de mim, da mesma forma que da amizade e do respeito.
[Nell Morato/31.07.2014]
REVIEW
Quanta diferença! Há um ano eu transitava em um caminho planejado, que era determinado em ações conjuntas. Até me “achava” uma princesa.
As cortinas começaram a se abrir, a princípio, lentamente, quando fiquei, por várias semanas, sem poder acessar a internet (roubo dos cabos na via pública). Foi uma sensação de prazer, que não identifiquei de imediato. Mas já era o prazer da liberdade... “sem lenço e sem documento”... como em “Alegria, Alegria”, do Caetano Veloso. E quando a operadora finalmente compareceu para ligar a internet, eu ainda fiquei dois dias sem vontade de acessar. Eu sabia que perderia alguma coisa... E não conseguia identificar os sinais.
Voltei para minhas atividades virtuais e a vida foi seguindo o curso determinado... Achei que poderia voltar a escrever, pois estava morando num local paradisíaco, com muito verde, pássaros cantando e o silêncio que eu desejava... Apenas “achismo”! Muito calor no mês de dezembro, a imensa quantidade de verde trazia visitantes indesejáveis, aranhas de longas pernas, que viviam fazendo teias em todo canto e no meio também; e mosquitos, muitos, que ficavam curtindo a breve vida no meu gramado... até eu passar e “inhac”. Meu sangue, minhas pernas embolotadas... sou alérgica à substância anticoagulante que eles injetam antes de sugar o sangue... Dia e noite preocupada com os micro vampiros...
Uma grande insatisfação instalou-se na minha alma. Eu precisava de emoções, de perigosas emoções... Escrever já não tinha importância, eu me sentia vazia e ao mesmo tempo repleta de contraditórios sentimentos e sensações que gritavam dentro de mim... Liberdade para existir e compartilhar. E eu fui em busca do que me faria encontrar a verdade sobre mim. E mergulhei num universo repleto de enigmas, com uma essência pura e dolorosa...
Lembrei então de uma frase que li no Facebook: “Apesar de a gente saber que o amor acaba, que o amor talvez nem seja pelo outro, mas apenas uma projeção do amor que a gente tem por nós mesmos... continuamos amando”. E... ajudou a equilibrar os pensamentos. Mas... cometi outros erros e faltou confiança... a confiança é fundamental para o equilíbrio de qualquer sentimento. Perguntar primeiro e depois, só depois, condenar, se for culpado!
Lutei em guerras que não eram minhas... Duelei com falsos inimigos e a angústia foi crescendo no meu peito... E o falso algoz me mostrou a verdade, a verdade no reflexo do espelho. Comecei a ver que a minha vida estava distorcida, disforme... não era nada daquilo que eu queria para mim... Estava sufocando. Houve outro momento, em que fiquei em off por uma semana e quando retornei, havia se “criado” uma situação extremamente estressante, que foi a gota que faltava para uma revisão final de todos nós.
Eu, uma romântica rebelde, com o pensamento totalmente diferente do grupo em que estava inserida... E a ruptura seria inevitável... e aconteceu. Estava fora do contexto e nem sei como se manteve por um ano. Com assuntos ou debates polêmicos é que se pode determinar a qual grupo pertencemos, ou a nenhum. Outra consideração é que você não pode dizer que não gosta de jiló e continuar comprando... Então, mudar é preciso e todos reiniciam uma vida nova.
Estou com uma indescritível sensação de liberdade... de volta ao caminho, do qual nunca deveria ter me desviado. Quando eu mergulhei inteira na poesia e passei a sentir o cheiro do mar ao olhar uma imagem, a ver a beleza na teia das aranhas, ou a bater de “cara” nos postes da via pública, com os olhos voltados para o belo cenário do céu azul, eu compreendi que estava de volta em mim. Aí só precisei colocar tudo no lugar, desculpar-me com os falsos inimigos e seguir adiante.
Estive lendo o comentário do meu amigo Diego Brum (que está perdidamente apaixonado e feliz) em uma homenagem que recebi do poeta Osny Alves, que dizia o seguinte sobre mim:
“Ser escritor é uma maneira de viver a vida, é uma forma única de descobrirmos a essência das coisas e das pessoas, às vezes percebemos que através da escrita, projetamos o nosso reflexo nos outros, e projetamos em nós aquilo que as pessoas possuem de belo. A tua alma é bela, mas bela de uma forma única, e através da escrita, tu demonstras a tua própria essência, a tua própria forma de sentir a tua própria vida fluindo através do tempo, e é isso que conquista as pessoas, a maneira como tu és, nunca deixando de ser autentica, e é essa autenticidade que tu empregas na tua alma, que faz tu seres a Nell que todos nós admiramos, um grande abraço, e sigas com o coração nos caminhos dos teus sonhos...”
A maneira como eu estava vivendo não me fazia feliz, pelo contrário, nem escrever eu conseguia... estava secando, como uma planta ao sol no verão.
Voltei ao meu caminho e estou reformulando tudo... Diminuindo a atividade na internet, porque “escrever é o meu ofício...”. E sou uma plebeia romântica e rebelde... Apaixonada pela vida simples, pela primavera vestida de margaridas...
[Nell Morato—25/8/2015]