A POESIA E EU
Eu considerava a poesia um sinônimo de melancolia e não tinha nenhum interesse por ela, com exceção do poeta gaúcho Mário Quintana. Gosto dos versos simples, numa linguagem clara e apurada que vai direto ao coração. Ele dizia: “que um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele.”
Foi o que encontrei nos poemas de José Lopes, o Poeta do Silêncio. Eu o conheci em dezembro de 2013, quando fui convidada para o lançamento de seu livro, “O Meu Silêncio”, em Lisboa. Infelizmente não pude comparecer, porém conhecê-lo foi surpreendente.
O poeta foi me mostrando a sua poesia, o seu “silêncio”. A princípio, eu não conseguia entender. Silêncio? Como o silêncio pode falar? Até mesmo gritar? Mostrou-me a ligação da poesia com a música. E, lembrei-me do Trovadorismo, o movimento poético dos séculos XII a XIV, onde surgiram as cantigas, que eram poesias compostas para serem cantadas ao som de instrumentos musicais como a flauta e a viola. Fiquei verdadeiramente encantada, ao ler uma poesia em voz alta ao som de música épica. Também me ensinou a pensar. Porque, para o Poeta do Silêncio, um pensador não é aquele que pensa... Mas o que estimula o pensar.
E a transformação aconteceu... Eu vivia com os pés no chão e a cabeça em cima do pescoço. Disse-me o poeta certa vez: “Vive o poema que és. Só assim serás poesia”! E também: “Todos nós somos poetas e quando não somos, somos o poema.” E fui em busca da minha poesia, decifrando a minha alma. Não se aprende a escrever poesia. Ela já existe dentro de nós.
Encontrei-me diversas vezes em seus poemas, como se fosse eu a escrever ou que tivessem sido escritos para mim. Aí então, lembrei-me da frase de Mário Quintana, “que era o poema que lia a minha alma”. Gosto muito do sentimento contido em seus escritos, gritos de revolta e às vezes de saudade e de amor. O primeiro poema escrito por ele, “Ser poeta”, surgiu com as emoções provocadas pela saudade e frustração, quando foi forçado a sair do seu país para trabalhar. E aí a paixão pela poesia instalou-se definitivamente.
Considera-se um filósofo, simplesmente por estar vivo, porque não há mais completa e complexa filosofia do que a própria vida. Costuma dizer que a vida sempre foi seu maior mestre. Os filósofos Friedrich Nietzsche e Immanuel Kant são os seus preferidos. Outra paixão do poeta é a fotografia. Tem publicado belíssimas imagens de sua autoria acompanhando as composições poéticas e encantando seus admiradores.
Existem muitas dificuldades no mercado editorial, no Brasil ou em Portugal, para os poetas publicarem seus livros, divulgarem seus escritos e ter o talento reconhecido. Alimento o desejo de ver o seu nome inserido na galeria dos grandes poetas portugueses.
O artigo foi publicado na Revista Divulga Escritor edição nº 16, na página nº 55
Veja em: http://issuu.com/estampapb/docs/divulga_escritor_out_nov_2015/1
Nell Morato em 18/09/2015