Translate this Page




ONLINE
11



Partilhe esta Página



Total de visitas: 44953
Trilogia Amor Virtual - Parte I II e III
Trilogia Amor Virtual - Parte I II e III

CARTAS DE AMOR QUE DURAM PARA SEMPRE — PARTE I

 

Porto Alegre, 01 de março de 2014.

 

Nicholas... Querido...

 

Estou me sentindo meio perdida, meio deslocada, sem ter como entrar em contato, não sei o que aconteceu com você... Por que me deixou, quem ou o que levou você para longe de mim? Quero entender o que aconteceu, mas, por mais que eu me esforce não encontro uma explicação para você ter saído da minha vida, da forma repentina como saiu.

Todos os dias quando acordo pensando em você, e depois de uma noite inteira sonhando com você, meus dias passam mecanicamente, nada mais tem sentido, o meu dia ficou sombrio, e uma vontade, não, não é uma vontade, de nada mais fazer.  Deitar e esperar... Quem sabe tudo voltará ao normal, quem sabe você voltará a falar comigo todos os dias. Eu sinto tanto a sua falta. Continuo esperando uma explicação... Mas quanto mais eu penso, eu sei que não quero nenhuma explicação, eu só quero você, você falando comigo todos os dias...

Estou aqui me lamentando da falta que você me faz, a dor que quase me sufoca e fico pensando numa maneira de estancar essa dor, tira-la de dentro de mim.  E me pergunto... Tirar a dor ou você de dentro de mim? Você é a dor ou o amor que eu sinto é a dor?  Estou ficando desnorteada.

Como fui me apaixonar? Sentir esse desejo inebriante que deixa meu corpo inerte e queimando... E quando você fala, porque você fala comigo, eu escuto... E você: Diz... Fala... Eu quero! Eu escuto a sua voz sussurrando em meu ouvido e sua boca tocando levemente meu pescoço e a sua respiração quase ofegante, o seu desejo... Suas mãos me despindo e acariciando a minha pele, sem pressa, tocando meu corpo suavemente e a sua boca na minha, sua língua em meus lábios, que se rendem ao seu desejo e se abrem para você entrar e me inundar de prazer... Beijo molhado, arrebatador, minhas mãos em suas costas, meus braços ao redor de seu pescoço e me deixo levar, pelo prazer da sua boca... Nunca mais parar, sensações invadem meu corpo e sinto o desejo incontrolável de despir você, arrancar suas roupas e sentir o seu corpo sobre o meu, fazer parar a fome, saciar o desejo, quero você, não poderei mais ficar sem você, sem seu corpo, sua língua na minha boca, suas mãos no meu corpo e você dentro de mim... E sua boca voraz em meu pescoço e no meu rosto, suas mãos apertando meu corpo e o desejo enfim saciado... Não! Eu quero mais... Quero mais você, e de novo, e de novo... O desejo de você não vai passar. Quanto mais eu tenho mais eu quero... Amo-te. 

Amor... Todos os dias são assim... Eu sonho com você me amando... E desperto exaurida e saciada, como pode? Como posso sonhar e sentir tanto prazer com você? Cada pedacinho do meu corpo implora, pelo seu corpo no meu... E quando eu acordo, eu não vejo nada, eu ligo o notebook e você não está mais lá, não tem mensagem de bom dia, que me alimentava de alegria para o dia ser feliz.  Eu não entendo. Você fugiu de mim?  Não gostou de mim? Eu estava com muito medo de enviar a fotografia e você não gostar de mim... E se não gostasse da minha voz?

Eu ouvia você falando comigo... É eu estou louca... Louca de amor por você, por um homem lindo de cabelos castanhos... Que eu nunca vi, que eu não escuto sua voz falando comigo... Meu olfato não conhece o seu cheiro... Mas eu imagino... Imagino o perfume da sua pele...  O amor tem tantas maneiras de se manifestar... Danem-se todos que irão dizer que é loucura... Eu amo você... Quando escuto as suas músicas, elas me levam para os seus braços... E você me aperta junto ao seu corpo e me olha nos olhos e sorri... E, como vou fazer se tiver que ficar sem você? Vou viver dos meus sonhos? Sem nem ao menos um contato? Você não responde meus e-mails, minhas mensagens.  Só me resta agora esta carta, que eu espero que você leia e me responda, por que me abandonou? Eu não queria nada...

Amor... Eu não queria nada.  Meu querido é mentira, eu queria você, eu quero você. Mas eu nunca tive... O que eu tive com você?  Um sentimento arrebatador que tomou conta de mim quando o conheci... Que foi se alimentando com as nossas conversas no Facebook, tão perto e tão longe, um oceano imenso nos separa.  E as noites lindas que passamos juntos. Lembra-se? Brincávamos que havíamos passado a noite juntos, eu com o meu computador e você com o seu, mas mesmo assim eu ouvia a sua voz... E você me cobrando, cobrando uma revelação.  E eu com medo de você não gostar, ficava...

Amor... Nicholas... Você me abandonou porque eu não confiei em você? Eu que dizia amar-te, não confiava em você?  Nicholas... Amor... Eu fico escrevendo que eu me dei inteira para você. O que você me pedisse eu daria... Mas eu não dei nada...  Palavras, apenas palavras... Enquanto você precisava que eu confiasse em você. Idiota que eu fui... Você me deu tudo... Eu olhava para a tela e via você... Lindo, e eu queria te puxar para mim... E você? Nada podia ver.  Apenas uma silhueta negra... Desconhecida... Ah! Meu amor, eu só precisava enviar uma fotografia e mostrar-te como eu sou... Lembro que você falou que eu sabia como fazer... Claro que eu sabia, mas ali você ironizava a minha atitude... Sabia que eu não faria.  Eu não precisava fazer quase nada... Era só enviar uma fotografia... E a voz, os empecilhos que criei para não instalar o aplicativo... Meu amor... Eu agora entendo.  Perdoe-me.  Perdoe-me, eu sei que não adianta mais... E palavras... Você não quer mais... Palavras soltas... Mas eu não menti em nenhum momento, me escondi de medo, acho que tive medo de você não gostar de mim. E eu me sentia protegida com aquela silhueta... Agora percebo o engano, o triste engano, a falta de confiança é o que existe de pior e sei que nunca vai me perdoar... E no momento o que posso dizer?  Juntar uma fotografia a esta carta e revelar como sou? 

Estou me sentindo pequenina, meio disforme, um borrão, estava tão desesperada que não percebi que a culpa é minha, sentia pena de mim, do meu pobre coração que chora implorando por você... E a culpa é minha? Como fui tão cega?  Como não entendi o que você tentava me dizer? Era tão fácil, só prestar atenção nas músicas. Entender o que você dizia... Meu amor! E eu tinha a pretensão de dizer que era sua amiga... Amigos confiam um no outro.  E dentro de nossas limitações e de quilômetros de distância que nos separam você me deu tudo... E eu? Nada! E ainda estou com pena de mim, morrendo de compaixão por mim.  Ou deveria sentir raiva, por não ter entendido como era desigual este amor?  Desigual em confiança. Perdoe-me?  Sei que não pode fazer. Eu agora sei... Mas eu te imploro, por favor, leia a minha carta. Por favor, eu preciso que você saiba que estou arrependida e que entendo o que não fiz... Deixe-me aplacar a minha dor.  Senão não poderei continuar a viver sabendo que além de ficar sem você, eu ainda te magoei. Perdoe-me... Por favor, leia a minha carta, não a queime, não a rasgue, apenas leia... Perdoe-me...

Com amor Juliana.

 

 

EU TENHO UM SONHO... — PARTE II

 

            Em uma bela manhã de sol, dentro de uma Agência dos Correios, Juliana está impaciente em uma fila enorme.  Deseja chegar logo ao balcão de atendimento, ou poderá mudar de ideia e não despachar o envelope.  Para ocupar o tempo e se distrair, passa a observar o local onde os envelopes são coletados.  E fica se perguntando, como fazem quando perdem algum envelope, e se for importante para a pessoa que o despachou?  Tipo assim, um caso de vida ou morte, como a carta que está enviando para o Nicholas?   Complicado ficar esperando numa fila, quando se precisa despachar urgente um envelope. 

            Finalmente chega ao balcão, onde uma moça lhe sorri e pega seu envelope, conferindo os dados e inserindo no computador que vai emitir o comprovante. Decidiu-se pelo serviço de SEDEX, encomenda rápida, que em 48 horas estará chegando à Espanha.  Verifica com mais atenção onde os envelopes são armazenados, e devia estar com a fisionomia preocupada, porque a moça lhe diz que o serviço é seguro e o envelope chegará ao seu destinatário. Juliana sorri se sentindo incomodada.  Efetua o pagamento da remessa, apanha seu comprovante e o recibo do despacho e se afasta, saindo imediatamente do local.

            Na rua, sente aquele maravilhoso sol de primavera e sorri, pensando que com o sol aquecendo seu corpo, a esperança parece voltar para sua vida.  Apanha a condução e retorna ao seu apartamento.  Ao chegar dirige-se ao notebook e abre no arquivo do Nicholas, das fotografias dele. E fala com a tela:

— Ah meu amor!  Em breve você receberá minha carta, e tenho certeza que vai responder, não acredito que me deixará sem saber o que aconteceu.

            Abre o Facebook e tenta acessar o perfil dele.  O sistema lhe diz que está indisponível.  E fica olhando fixamente para a tela, sem vontade para trabalhar, sem vontade para nada.  E só pensa nele, na saudade que sente, e o que vai fazer para suportar aquela ausência.  Seus pensamentos a levam para os momentos felizes, onde se falavam todos os dias, da amizade, do carinho, da confiança, dos segredos compartilhados.  Pensa nas palavras que ele escrevia, que a deixava perturbada e o corpo arrepiado.  Na presença marcante daquela fotografia, aquele rosto tão desejado, os cabelos revoltos e suas mãos querendo tocar. Uma força arrebatadora emanava daquele rosto, deixando-a perdida ali, por horas e horas a admirá-lo.

            Ela sabia que precisava reagir, voltar à vida. Mas para que? Queria ele, falando com ela todos os dias, não precisava de mais nada para ser feliz, e agora tinha nada vezes nada.  Todos os dias seguia uma busca na internet, quase um ritual. E a resposta era sempre a mesma: não localizado, não encontrado. Mas precisava fazer, era tão importante quanto respirar.  Quase não dormia, e quando acontecia sonhava com ele, e também sonhava acordada.

Seus dias passavam mecanicamente.  Realizava suas tarefas na internet, porque o trabalho ainda a mantinha com a mente ocupada e era o único momento que “quase” não pensava nele. O tempo andava lentamente, e nenhuma notícia chegava para acalmar seu dilacerado coração. Mas alimentava a esperança de que de alguma forma ele faria contato.  Um dia naquela semana, ao abrir os seus e-mails, deparou-se com um especial, e custou a acreditar, que Nicholas Castell o havia enviado em resposta à sua carta.  E-mail?  E por que não respondeu os e-mails que eu enviei?

Abriu o e-mail e à medida que ia lendo, as lágrimas rolavam silenciosas pelo seu rosto.  Quando chegou a última linha, voltou ao início e leu outra vez e outra, não conseguia acreditar no que estava escrito, e gritou:

— Canalha! Canalha covarde! Como pôde me excluir do seu perfil no Facebook? Se não queria nada, não desejava nada, podia ter dito, podia ter falado comigo. Eu o deixaria em paz! Uma raiva furiosa tomou conta dela, queria esbofeteá-lo naquele momento, pela covardia do ato infame.

— Covarde!  Homem não age dessa maneira!  Canalha! Covarde infame! Como será que ele fez?  Estávamos indo longe demais?  Indo aonde seu inútil covarde? Bastava me procurar e dizer que não queria mais falar comigo. Mas não, tinha que agir como um desgraçado.  E seu corpo tremia pelo choro compulsivo.  Estava morrendo de pena de si mesma, de ter sido enganada, e durante tantos dias, ficou ali, alimentando a esperança de voltar a falar com ele. Que tudo não passava de um engano, um erro na internet.

            Saiu do Gmail e foi para o Facebook procurar o procedimento de bloqueio.  Não sabia onde estava e clicava em todos os sinais que via pela frente.  Até que apareceu na tela: Como faço para impedir alguém de me incomodar? Você pode bloquear uma pessoa para desfazer a amizade com ela e impedi-la de iniciar conversas com você ou ver as coisas que você publica na sua linha do tempo.  Adicionar nome ou e-mail. Juliana ficou perplexa lendo aquelas palavras, sem conseguir acreditar em tamanha infâmia.

— Desfazer amizade?  Como pôde? Que porcaria de amizade que precisa de bloqueio?  Não é nada, não é amizade.  E logo depois que eu falei que o queria.  Canalha e covarde!  Ela gritava, e chorava; chorava mais e gritava, parecendo ser um pesadelo e que a qualquer momento acordaria e a vida estaria igual como antes.

            Assim permaneceu durante algumas horas, chorando e se lamentando.  Seu coração que já estava destroçado, agora sangrava.  O golpe fora muito forte e o desprezo e a rejeição é o que existe de pior.  Que nos joga para baixo, tão baixo, que fica quase impossível visualizar uma saliência, por menor que seja, para se agarrar e tentar subir. Depois de um longo tempo, levantou-se e se arrastando seguiu para o banheiro, onde lavou o rosto vermelho e inchado de tanto chorar.  Quando regressou à sala sua fisionomia marcada pelas lágrimas, estava endurecida pela raiva. E seguiu decidida para o notebook, dando a impressão de que iniciaria uma guerra, naquele momento.

            Verificou minuciosamente o e-mail dele, respondendo em seguida, chamando-o de insignificante e que ficasse com a sua vidinha medíocre.  Mas as lágrimas voltaram, não conseguia se afastar daquelas palavras, a maneira como escrevia era muito particular.  Fechou tudo e se jogou na cama, ficaria lá até secar, até chorar todas as suas lágrimas.

O tempo foi passando, e a raiva se apagando. O amor que sentia por ele parecia mais forte, e os sonhos se tornaram frequentes. Continuava alimentando os sentimentos, a saudade, o desejo, e não sabia o que fazer.  Incrível que ainda havia resquícios de esperança, uma determinação de reverter à decisão de Nicholas. Mas não sabia o que deveria fazer. Alternava momentos de raiva, pelo desprezo e rejeição, e outros de perdão pelo ato infame que o afastou dela. Poderia perdoar, e gostaria de esquecer.

Nada melhor que o tempo para curar as feridas e acomodar um coração destroçado.  E assim, a mente fica liberada para pensar em tudo o que aconteceu e talvez, quem sabe, encontrar uma solução, uma maneira de tudo ser como antes.  E Juliana passou a sonhar acordada.  E seus sonhos a levavam para longe dali. Devaneios e ilusões de uma mente apaixonada.

Sonhava em pegar um avião, buscar Nicholas na sua casa e leva-lo para uma linda casinha isolada.  Longe de tudo e todos, onde eles pudessem viver de amor e desejo. Ela adoraria poder cuidar dele, das coisas dele e se dar inteira para ele.   Ela sonhava acordada e enquanto dormia, e os sonhos começaram a se misturar e Juliana não sabia mais o que era real e o que era sonho.  Então, num feliz momento de lucidez, decidiu tomar cuidado e não se envolver demais com seus loucos devaneios.  E também resolveu tentar esquecer o que sentia pelo Nicholas.  Não queria mais pensar nele, e se entregou ao trabalho, com o firme propósito de esquecer aquele sentimento tão doloroso. Amor não dói.  Amor cura. Às vezes pensava nisso.  E às vezes também, pensava no desejo que aflorava em seu corpo, cada vez que se lembrava do seu rosto e das suas palavras, das músicas que ele gostava e que ela passou a ouvir.  Podia controlar os sonhos quando estava acordada, mas quando dormia, era impossível.  Sentia as belas mãos em seu corpo e sonhava que estavam vivendo um amor pleno e intenso.

Depois de cinco meses, onde chorou, sofreu, foi rejeitada e desprezada, percebeu que estava muito bem, sentia-se forte, não pensava tanto nele, achou que estava pronta para esquecer. Enganou-se!  Ainda sentia a falta dele, saudade de conversar. O amor era tão forte, que se deu conta que poderia sentir o cheiro dele, da sua pele, sem nunca ter estado com ele. Sabia que seus perfumados cabelos revoltos eram macios e sedosos, e parecia que suas mãos já haviam tocado.  Olhava para a fotografia e sonhava estar com ele. Estava cheia de dúvidas, se o que sentia por ele era amor ou uma obsessão doentia.

            Juliana tinha momentos reais, onde aceitava o convite de amigos para sair e se divertir.  Sair ela até saia, mas dizer que se divertiu, não poderia.  Mas eles faziam muitas perguntas e não pretendia contar o seu segredo para ninguém.  Iriam dizer que ela era maluca, que estava doente, ninguém se apaixona apenas por uma fotografia. Era seu segredo.  E ninguém ficaria sabendo que ela tinha uma vida dupla.

             Durante o dia ela trabalhava normalmente, se envolvia com o trabalho e afastava o seu pensamento do Nicholas.  Mas a noite, ela se jogava no mundo dele, ouvia as músicas que ele gostava, olhava as fotografias e fazia planos.  Sonhava em encontrar com ele, leva-lo para uma casinha isolada para viverem felizes.

            Juliana estava decidida a economizar cada centavo, e resolveu que não sairia mais com os amigos para evitar os gastos.  Não precisava de roupas, trabalhava em casa e compraria somente o estritamente necessário. Nas suas horas de folga começou a pesquisar locais mais ou menos isolados, dando preferência por praias, com casas simples, sem luxo algum. Tinha um sonho, e se esse sonho lhe dava forças para viver, ele seria alimentado todos os dias.  

            Ainda se perguntava o que ele tinha de tão especial, para que ela se envolvesse tão profundamente.  Nunca se encontraram pessoalmente, não tinha voz, não tinha cheiro, não tinha gosto.  Lembrou-se de quando se conheceram, do inicio da amizade, da empatia recíproca.  Recordou todas as conversas, olhou o que ainda tinha de mensagens, pois num momento de raiva havia excluído quase tudo.  A maneira de escrever era encantadora, como colocava as palavras numa frase, o sotaque se acentuava e tudo virava música.  O belo rosto de traços marcantes, os cabelos revoltos, a boca sedutora de sorriso ausente.  Não tinha nenhuma fotografia onde ele sorria.  Todas eram sérias, com aquela linda boca de lábios selados.

            Agora que a decisão havia sido tomada, estava se sentindo mais forte.  Nada nem ninguém iria afasta-la de seu objetivo.  Não sabia como faria mas tinha certeza que encontraria com Nicholas.  Poderia demorar algum tempo, precisaria ter paciência, mas estava se sentindo bem e tinha um sonho.  Tudo poderia acontecer, até esquecer-se dele, acabar o que sentia, da mesma maneira que começou, poderia terminar. Se para ser feliz precisava sonhar, com certeza sonharia muito, viveria de sonhos, até o dia em que pudesse realizar o sonho que tinha, de encontrar o seu amor!

 

"NOTA: No Concurso para escolha dos melhores contos, da Coletânea: Eu Tenho um Sonho... eu colaborei como jurada e também tive o conto, que já havia enviado para participar da seleção, incluído na coletânea."

 

 

AQUELA VIAGEM — AO ENCONTRO DO AMOR — PARTE III

 

 

Juliana estava em frente ao notebook, olhos fixos na tela e no belo rosto masculino, de lindos cabelos castanhos, boca sedutora e sorriso ausente.   Vez ou outra, sua mão acaricia suavemente o rosto na tela e os olhos da figura marcante parecendo fixos nela, e acompanhando seus movimentos. Demora-se naquele ritual doloroso, até que as lágrimas escorrem pelo seu rosto e se entrega num pranto compulsivo.

— De que adianta?  Não está olhando para mim!  – grita, a voz embargada pelo choro.

— Que vou fazer para te tirar da minha cabeça?  Não quero mais pensar em ti. Como posso te desejar ainda?  Você foi um canalha! E eu vou enlouquecer. Baixa a tela fechando o note e se atira no sofá, escondendo o rosto numa almofada, como a pedir socorro, para aplacar a saudade e o cruel sentimento de rejeição que a devora, desde que recebeu aquele e-mail.

Juliana Megavich, meses atrás, apaixonou-se perdidamente por um amigo de bate-papo no Facebook.  Falavam todos os dias, trocavam músicas e muita informação. A empatia foi aumentando dia a dia, quando acordava, lá estava no chat, um “bom dia” caloroso.  Falavam a tarde e a noite também. E a amizade se transformou em desejo.  A sensação era física, sentia seu corpo dolorido e arrepiado cada vez que se falavam.  Não aguentando mais resolveu comentar o que sentia.  Ele ficou surpreso e pareceu gostar do que provocava nela.  Então, começou a pedir fotografias e para que ela instalasse um aplicativo para poderem falar por telefone, via internet, ela no Brasil e ele na Espanha. Demorou a tomar providências e numa bela noite, muito agradável, ele simplesmente sumiu, apagou o face, sumiu tudo.

Durante dias e dias, Juliana tentou entrar em contato, não sabia o que estava acontecendo, enviou vários e-mails, e não recebia nenhuma resposta, nenhum sinal. E decidiu escrever uma linda carta de amor, como última tentativa de contato.  Agora, sabia que estava apaixonada, sentia a falta dele, eram só palavras escritas no chat, mas era tudo o que tinha. Enquanto escrevia a carta, percebeu que a ausência dele poderia ser pela falta de confiança dela, em não enviar as fotografias e instalar o aplicativo. Pediu perdão pela demora em solucionar esse impasse.  Precisava de notícias, estava desesperada sem saber o que havia acontecido.

Naquela linda carta de amor, desnudou seu coração e falou de todos os seus sentimentos por ele, sem entender muito bem como aconteceu, de apaixonar-se por alguém sem ver, sem tocar, sem ouvir a voz, sem sentir o cheiro.  Mas sentia o desejo aflorando em seu corpo, todos os dias e o dia todo quando pensava nele, ou quando sonhava.  Despediu-se pedindo perdão pela falta de confiança, mesmo sabendo que ele não a perdoaria, sabia que era tarde demais. Enviou a carta e ficou na esperança de receber notícias, mesmo que não a perdoasse de imediato, acreditava que voltariam a se falar.

Os dias passavam devagar e nada acontecia.  Continuava sem notícias dele, sem saber o que havia acontecido para sumir repentinamente. Mas alimentava a esperança de que de alguma forma ele faria contato.  Um dia naquela semana, ao abrir o seus e-mails, deparou-se com um especial, e custou a acreditar, que Nicholas Castell o havia enviado em resposta à sua carta.

Abriu o e-mail e à medida que ia lendo, as lágrimas rolavam silenciosas pelo seu rosto.  Quando chegou a última linha, voltou ao início e leu outra vez e outra, não conseguia acreditar no que estava escrito, e gritou:

— Canalha! Canalha e covarde! Como pode me excluir do seu perfil no Facebook? Se não queria nada, não desejava nada, podia ter dito, podia ter falado comigo. Eu o deixaria em paz! Uma raiva furiosa tomou conta dela, queria esbofeteá-lo naquele momento, pela covardia do ato infame.

Mas, o tempo foi passando, e a raiva se apagando. O amor que sentia parecia mais forte e os sonhos mais frequentes. Continuava alimentando os sentimentos, sem saber o que fazer.  Incrível que ainda havia um resquício de esperança, uma determinação de reverter o que havia acontecido.  Mas não sabia como fazer e nem o que poderia ser feito.  Alternava momentos de raiva, pelo desprezo e rejeição, e outros de perdão pelo ato canalha que o afastou dela.

Nada melhor que o tempo para acomodar um coração partido e curar, parcialmente as feridas.  E assim, a mente fica liberada para pensar em tudo o que aconteceu e talvez, quem sabe, procurar uma solução.  E Juliana passou a sonhar acordada.  E seus sonhos a levavam para longe dali. Devaneios e ilusões de uma mente apaixonada.

Sonhava em encontrar uma linda casinha isolada, para onde pudesse levar o seu amor. Ela sonhava acordada e enquanto dormia, e os sonhos começaram a se misturar e Juliana não sabia mais o que era real e o que era sonho.  Então, num feliz momento de lucidez, decidiu tomar cuidado e não se envolver demais com seus devaneios.  E resolveu tentar esquecer o que sentia pelo Nicholas.  Não queria mais pensar nele, e se entregou ao trabalho, com o firme propósito de esquecer aquele sentimento que nutria por ele.  E às vezes pensava no desejo que aflorava em seu corpo, cada vez que se lembrava do seu rosto e das suas palavras, das músicas que ele gostava e que ela passou a ouvir.  Podia controlar os sonhos quando estava acordada, mas quando dormia, sonhava muito.

Depois de cinco meses, onde chorou, sofreu, foi rejeitada e desprezada, descobriu que estava muito bem e sentia-se forte e pensava estar pronta para esquecer. Enganou-se!    Sentia a falta dele, saudade de conversar, e percebeu que o que sentia era tão forte que até poderia sentir o cheiro dele, sem nunca ter estado com ele.  O perfume de seus cabelos macios e sedosos, sem nunca ter tocado.  Não conseguia explicar, se realmente estava apaixonada ou era uma obsessão doentia.

Precisava de uma resposta, não suportava mais o desejo que a dilacerava, a vontade de beijar aquela boca sedutora e sentir as belas mãos em seu corpo. Talvez se eles tivessem se encontrado, poderia ter se decepcionado, e aí o teria esquecido com facilidade.  E só existia uma maneira de buscar a resposta.  Precisava encontra-lo pessoalmente.  Deveria fazer aquela viagem! Uma viagem ao encontro do amor!

Dedicou-se a fazer planos para uma possível viagem para a Espanha. Nem sabia direito onde Nicholas residia.  Mas estava determinada a encontra-lo, e a internet poderia auxiliar na busca pelo munícipio de Alboraya, na Província de Valência. Consultou os mapas do Google para se localizar, verificando que a cidade ficava muito próxima de Valência. Não sabia se poderia ir direto ou deveria ir para Madri e ficou o resto do dia fazendo planos e pesquisando.

Ao final de 48 horas, Juliana estava com seu roteiro de viagem concluído. Pegaria um voo para o Rio de Janeiro e de lá , um voo internacional direto para Valência. De Valência, poderia tomar a Linha Três do Metrô, porque o município de Alboraya estava ligado à área metropolitana de Valência.  Economizaria alguns trocados, porque a sua grande viagem ficaria com a conta muito salgada. Para localizar a residência de Nicholas, teria que tomar um taxi, não poderia ficar circulando a pé. Decidiu fazer reserva no Hotel Olympia Valência, que fica perto da praia em Alboraya.  Seria muito bom, dependendo do resultado do encontro, poderia se afogar no Mar Mediterrâneo.

Verificou o passaporte e demais documentos, para não ter surpresas desagradáveis. Consultou a internet para saber o clima na região, para fazer suas malas, não gostaria de levar muita bagagem, não queria pagar excessos, mas também não gostaria de precisar gastar com vestuário na Espanha.  O motivo daquela viagem era encontrar ou não o amor, não estava viajando para fazer turismo.

Juliana chegou à Valência numa linda manhã, e tão logo desembarcou, saiu do prédio do aeroporto para ver o céu lindamente azul e o sol brilhando.  Sentia-se muito feliz.  Informou-se da estação do metrô e rumou para lá, seguindo o seu roteiro.  Desceu na estação em Alboraya, e respirou fundo.  Tomou um taxi para o hotel, onde iria descansar e se preparar para ir ao encontro de Nicholas.

Após um banho relaxante, dirigiu-se ao restaurante para uma refeição e pensar como iria fazer para bater na porta da casa dele.  Entrou em pânico, e se ele tivesse mentido para ela e fosse casado? Tudo poderia acontecer, até encontrar uma senhora Castell.  Resolveu que faria uma investigação prévia, mas não desistiria sem tentar.

Juliana seguiu para a residência de Nicholas, o taxi a deixou próxima da casa, em frente a uma Loja de Doces.  Entrou na loja e fez algumas perguntas para uma simpática moça no balcão.  Descobriu que naquela casa vivia um homem sozinho.  Quase saiu correndo em direção à casa.  Controlou-se e foi andando até a porta e bateu.  O corpo tremia e suas pernas pareciam que não aguentariam o seu peso.  A porta abriu e ela o viu, igual na fotografia, ele ficou olhando curioso, a moça na sua frente, até que ela fala:

— Olá Nicholas? Está me reconhecendo?  Estou diferente da fotografia, mas sou a Juliana, não vai me convidar para entrar?

Nicholas fica visivelmente surpreso, mas afasta-se para lhe dar passagem, e ela entra na casa.  Ele fecha a porta e a convida para sentar no sofá em frente.

— O que você está fazendo aqui?  Como... Por que ... Você veio? Depois que eu...

— Não diga nada, eu sei o que você fez.  A verdade, eu vim aqui buscar a verdade sobre o que eu sinto por você.  Não aguento mais a saudade que sinto dentro de mim e o desejo de ter você.

Ele se afasta até uma janela e fica olhando para fora durante um tempo, então se vira para ela e pergunta como vai saber a verdade.

— Não nos conhecíamos pessoalmente, então pensei que se viesse aqui e olhasse para você, eu saberia a verdade, poderia me decepcionar e tudo ficaria resolvido.

Nicholas se aproxima dela, e durante alguns instantes fica olhando-a, sem saber o que dizer.  Então, ela chega bem próxima, e lhe diz:

— Você sequer imagina, quantas vezes eu olhei sua fotografia e desejei beijar esta boca, tocar em seu rosto e em seus cabelos, ou ser abraçada por você.  Sua voz estava ofegante, percebia-se a emoção e o desejo e de repente ele a abraça e a beija.  Juliana coloca os braços ao redor de seu pescoço, afaga seus cabelos, toca em seu rosto, saciando a vontade do corpo dele. Separam-se e ele parece ficar constrangido e volta a olhar pela janela. Juliana permanece no mesmo lugar, de olhos fechados, como que saboreando aquele beijo e passa a língua sensualmente pelos lábios .

— E então?  Não está decepcionada?  Fale, diga alguma coisa.  Acredito que você perdeu o seu tempo vindo aqui.

— Não.  Eu fiz a coisa certa. Só gostaria de saber por que você me afasta?  Qual o problema? Sou eu? Claro que sou eu!  Puxa, fiquei tão louca que não me dei conta da verdade. Realmente, você não precisa gostar de mim. Nós éramos amigos e bastava para você e eu me apaixonei e estraguei tudo.  Desculpe... Vou embora! Foi um engano!   Lentamente, vai andando em direção a saída e fica parada, olhando para a porta, para se recompor ou acreditar no que acabou de falar.

— Não vá! Se você veio em busca da verdade, não acredito que apenas um beijo a satisfaça.  Fique!  Ele finalmente sorri para ela.

Juliana não tem certeza se escutou ele pedindo para ela ficar, e vai se virando lentamente, e se depara com o lindo sorriso que nunca havia visto e também sorri, larga a bolsa e corre em sua direção e para os seus braços.

Mais tarde, sentados no sofá abraçados, ela fala enquanto acaricia o lindo rosto tão desejado:

— Escrevi uma linda carta de amor para você, depois passei meses sonhando em lhe encontrar e precisei fazer aquela viagem! A viagem ao encontro do amor! Amo você!

 

Nell Morato-Autora