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O Sexo do Cérebro
O Sexo do Cérebro

O SEXO DO CÉREBRO

 

Sally e Bennet Shaywitz, cientistas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, demonstraram que, ao contrario do que se pensava, o cérebro da mulher e do homem são muito diferentes. O processamento da linguagem situa-se em lugares diferentes nos hemisférios e cada intelecto segue seus próprios caminhos.

 

CAPÍTULO 1 —

As diferenças anatômicas e funcionais entre os sexos produzem um subproduto humorístico machista que normalmente se baseia na inferioridade intelectual da mulher em relação ao homem e em sua conhecida loquacidade, por ela ser capaz de associar dados instantaneamente, falar mais palavras por minuto e vibrar intensamente diante de novidades. Essa suposta característica da oralidade feminina choca-se com o preconceito que postula sua lentidão mental em relação ao homem: se considerarmos que a linguagem é um bem comum que propicia uma vantagem a quem fizer melhor uso dela, seria correto deduzir-se que a mulher é m ais inteligente do que o homem.

 

Talvez, por esse motivo, se fale da igualdade dos sexos em nível cerebral, com predisposições diferentes no homem e na mulher, narradas secularmente através de papéis e ações sócio-culturais opostas ou complementares. Assim, corresponderiam ao homem, por exemplo, a introspeção e a escrita, e à mulher, a extroversão e a leitura. Obviamente, essa é uma divisão sexista grosseira do pensamento como atividade e da ação como tarefa transformadora.

 

No entanto, em um ponto a ciência discorda do lugar-comum, aumentando a polêmica sobre a milenar "guerra dos séculos". Segundo um estudo original, realizado pela pediatra Sally Shaywitz e por seu marido, o neurologista Bennet, ambos da Universidade de Yale, o homem e a mulher possuem cérebros bastante diferentes.

 

CAPÍTULO 2 —

Para provar a teoria, os cientistas basearam-se em uma antiga tese, que afirma que as funções linguísticas (considerando-se a linguagem como a expressão humana máxima) estão presentes nos dois hemisférios cerebrais da mulher e somente em um dos hemisférios do cérebro do homem. Trinta e oito pessoas destras foram submetidas a testes de medição similares, sendo elas 19 mulheres com cerca de 24 anos e 19 homens de 28 anos de idade. Os resultados revelaram que as mulheres são realmente mais velozes em nível verbal e os homens possuem mais facilidade para imaginar um objeto a partir de ângulos espaciais diferentes. Os testes consistiam em exercícios de ortografia (reconhecimento de letras), fonológicos (ritmo de palavras e frases), semânticos (interpretação de significados) e de inter-relação entre textos elementares. Entretanto, a equipe de cientistas podia controlar, de forma direta ou eletrônica, todo o andamento dos testes que, por sua vez, seguiam um padrão evolutivo, conduzindo a uma avaliação final.

 

Para sistematizar esse estudo, o casal Shaywitz, utilizou uma complexa técnica de ressonância magnética para registrar a quantidade de oxigênio existente no sangue que irrigava o cérebro durante os testes - baseando-se no fato de que as áreas ativas consomem mais oxigênio. Em seguida, depois de obter imagens coloridas do cérebro em funcionamento, os computadores comprovaram que o cérebro masculino concentra as tarefas vinculadas à linguagem na circunvolução frontal inferior de seu hemisfério esquerdo, e o feminino, nas circunvoluções frontais inferiores de seus dois hemisférios, tanto o esquerdo como o direito.


CAPÍTULO 3 —

A escolha das regiões cerebrais estudadas baseou-se em pesquisas neuropsicológicas anteriores e nas imagens computadorizadas que se ativeram às funções linguísticas. Desse modo, uma análise de reconhecimento permitiu o isolamento de dois pontos relevantes para a identificação léxica: o ortográfico (relativo à codificação de letras) e o fonológico (relativo à codificação dos fonemas). São dois aspectos complementares de um mesmo estudo, estabelecendo a ligação entre a compreensão e a palavra escrita, e sua organização e expressão, tanto no discurso coloquial como no erudito. A rima poética, por exemplo, exige um esforço cerebral suplementar, pois requer o ordenamento de palavras a partir de sua afinidade auditiva.

 

Essas descobertas indicam ser possível isolar componentes específicos da linguagem e, ao mesmo tempo, relacionar esses mecanismos linguísticos com modelos definidos de organização cerebral. Baseando-se nessa estratégia, o casal Shaywitz demonstrou que o processo fonológico, de acordo com os testes, é mais fluente na mulher do que no homem. isso não quer dizer que haja diferenças marcantes entre todas as mulheres e todos os homens, nem que necessariamente ambos reajam da mesma maneira a estímulos idênticos. Durante alguns testes, 11 das 19 mulheres usaram os dois hemisférios cerebrais, enquanto as 8 restantes usaram somente o lado direito, como os homens. Se necessário, a mulher pode apelar para essa "reserva" de sua atividade linguística, ou poderá nunca precisar dela; já o homem não poderá fazê-lo, pois conta somente com um único "arquivo".

 

CAPÍTULO 4 —

A partir da contestação do capítulo anterior pode-se discutir se a lateralização do cérebro masculino seria desvantajosa ou se, dessa maneira, o cérebro consegue concentrar melhor as suas funções. Pode-se investigar também se a bilateralidade do cérebro feminino indicaria uma certa superioridade sobre o masculino ou se provocaria nas mulheres uma desagregação de ideias. Pelo que se sabe, pode-se afirmar que as habilidades espaciais, não-verbais, localizam-se no hemisfério direito e que os homens, ao sofrerem uma lesão no hemisfério esquerdo, demonstram mais problemas de coordenação motora e de comunicação que as mulheres.
Segundo os cientistas, esse fato poderia estar relacionado com um plano genético conservacionista, no qual a mulher, matriz e perpetuadora da espécie, precisaria de mais garantias de sobrevivência que o homem, portador da semente. Portanto, essa bipolaridade cerebral não seria acidental nem caprichosa, mas uma segurança adicional da natureza.

 

Por outro lado, durante os testes, elas mostraram uma associação que é rara nos homens: além do maior rendimento oral, demonstraram uma grande capacidade olfativa e também encontravam rapidamente a palavra mais adequada para identificar cada odor separadamente.

 

CAPÍTULO 5 — CONCLUSÃO

A tese de que a linguagem esteja representada mais assimetricamente no cérebro masculino que no feminino enriquece a bibliografia sobre as áreas cerebrais da linguagem, que remontam a meados do século XIX. Desde aquela época, muitos estudos, recorrendo a uma variedade de outros métodos, alertaram que, na maioria dos indivíduos, as funções verbais dependem muito das regiões corticais específicas do hemisfério esquerdo. Da mesma forma que é polêmico afirmar que a unilateralização da linguagem é mais eficaz no cérebro masculino, é audacioso que todas as mulheres empregam estratégias orais para solucionar problemas não-verbais.

 

Pelo resultado das pesquisas pode-se afirmar que o homem e a mulher apresentam configurações cerebrais diferentes para executar as mesmas tarefas. Também é possível dizer que as mulheres vivem em um mundo mais rico em palavras e odores, ou seja, um mundo mais amplo que reúne extremos, desde uma simples percepção física até o acompanhamento da voz.

 

Para a ciência, continua sendo uma incógnita a localização da inteligência no cérebro e também como ela poderia ser medida, já que se trata de uma qualidade subjetiva e os testes de QI nem sempre mostram a realidade.

 

Fonte: Tudo - O Livro do Conhecimento