Entrevista com a escritora Nell Morato
Ironi Jaeger: Qual a fonte de inspiração para seu livro?
Qualquer coisa serve de inspiração?
Sou romântica e adoro os filmes de comédia romântica. Aliás, todos os caminhos nos levam ao amor. Até filme policial, suspense ou terror, tem uma pitada romântica, um relacionamento, um coração partido.
Acho que a inspiração é a vida, os sonhos, o que eu já vivi, o que ainda espero, o que quero e o que vou fazer.
Qualquer coisa não serve de inspiração, sempre vai depender do meu íntimo avaliar se é bom ou não. É como uma viagem no tempo, no espaço...
Miguel Rodrigues: Eu penso em um tema e discorro, independente do lugar. Qual sua técnica para escrever: Poesia e/ou prosa?
Em silêncio ou com música e fones de ouvido. Não é técnica, é sentimento, emoção. Mesmo que seja um texto sobre o cenário literário eu visualizo a cena e vou escrevendo… Poesia é diferente, é uma dose de emoção sem tamanho e preciso criar o clima para que ela brote e desfile diante de meus olhos. Às vezes, um devaneio, um sonho e o texto se apresenta. Não sei escrever por encomenda, quando acontece, fico circulando o computador por horas e até dias… Todo o tema precisa causar um impacto dentro de mim.
Adilson Mitzael: Os livros têm vida própria, já ocorreu de você ao esboçar mentalmente um arquétipo e trama para determinado personagem e, ao notar, ao longo da história, ele fugir totalmente da ideia inicial? Como agir? Deixá-lo desfilando na sua trama ou limitá-lo?
A criatividade deve ser livre. Mudaria tudo. Aconteceu inúmeras vezes e, a cada leitura quero mudar alguma coisa, inserir um novo parágrafo. Quase sempre é acrescentar, como se tudo ficasse muito vago e necessitasse de complementação. Já desisti de um concurso por falta de espaço para meu conto, isto é, as regras pediam duas páginas e eu precisava do dobro, no mínimo. Melhor cancelar do que apresentar um texto incompleto e sem sentido.
Ironi Jaeger: Como você escritor descreveria o cenário político atual do nosso país?
O dia que selecionei as perguntas para a entrevista já é passado. Tínhamos um cenário mais tranquilo e o país não estava envolvido com fanáticos e lunáticos. Não havia gente pelada nas ruas, numa crise de autoabuso e usando as ruas das cidades como banheiro. É lamentável que tenhamos chegado a esse ponto. Quando a minha entrevista for publicada, já teremos o resultado do 1º Turno. Sinceramente, o que eu desejo não tem nada a ver com o que realmente vai ocorrer.
Michelle Paranhos: Qual a importância dos clássicos da literatura para você?
Certeza! Inspiração! Quando você pensa num livro escrito lá pelos idos do século 16, na época clássica europeia, e lembra que a comunicação existia através de mensageiros, sem rádio, sem televisão, sem internet… e aí fica se perguntando como eles faziam? De onde que vinha toda a inspiração, todo o saber que encontramos nos textos clássicos? Se compararmos ao longo dos séculos, o antes e o agora, teremos certeza de que estamos carentes de imaginação. Quando estava abrindo o site, que hoje é o Almanaque Literário, uma pessoa criticou-me demasiadamente por querer inserir a História da Literatura brasileira e portuguesa. Que em vez de seguir em frente para o mundo contemporâneo eu estava vivendo na antiguidade, cercada de velharias. Não posso escrever sobre a literatura contemporânea, e esquecer do passado, dos mestres, dos belos textos literários, dos gregos e romanos e muito menos dos egípcios.
Carla Póvoa: Existem "panelinhas" no mundo literário? O que dizer delas?
Sim, acredito que muitas. Frequentemente nos deparamos com “barracos” no feed do Facebook. Posts maldosos e comentários sarcásticos. São os egos inflados, autores que escrevem para virar celebridade e nenhum interesse literário. A maioria é de grupinhos fechados, autores e sua turma de leitores, quando adicionam outros ao grupo, é somente para “aparecer”. Se você entrar no grupo e questionar algum comentário, alguma atitude, mesmo que seja a favor da “celebridade autoral” logo, logo, o tal post com o seu questionamento vai sumir…
Carla Póvoa: Antologias são boas opções literárias? Como as avalia?
Antologia ou coletâneas, quase sempre é o ganha-pão das editoras. É onde o autor paga por um espaço num livro. A maioria precisa comprar um número estipulado de exemplares e, não recebe direito autoral.
Algumas são uma boa opção de divulgar o trabalho do autor, como as antologias organizadas pela Chiado Editora, você pode participar sem custo algum. Se desejar comprar um exemplar, só pagará o valor do livro onde está inserido o seu texto ou poesia.
Eu estipulei regras para minha participação em antologias ou coletâneas, não participo se tiver que pagar taxa de inscrição.
Prefiro então, editar uma coletânea de contos ou poesias, de minha autoria
divulgando o meu trabalho. Por que vou pagar para divulgar outros autores?
Não confundir com concursos, que aí, dependendo das regras é válido e estimulante a concorrência, sem contar que passamos a escrever cada vez melhor.
Carla Póvoa: O que está afastando os jovens da literatura - a escola, a tecnologia ou a família?
Acho que é o conjunto. Em alguns casos a família tem culpa, por não ler e consequentemente não estimula a leitura em casa. Como eu costumo dizer, devemos começar a ler para nossos filhos desde o útero; algumas escolas nem bibliotecas têm mais, como os alunos serão estimulados a ler? Professores todos os anos em situação de greve, reclamando de forma justa, por melhores salários e, até mesmo por verbas para administrar a escola com melhores condições; A tecnologia que poderia ser aliada dos professores para evolução dos alunos, acaba prejudicada por não existirem computadores nas escolas, ou insuficientes para atender a todos. Os alunos usam seus celulares para jogos e curtição, preterindo o aprendizado. Mas, acredito que houve uma grande mudança depois do sucesso de Harry Potter. Crianças e jovens que não tinham o hábito da leitura, extracurricular, passaram a ler com regularidade, buscando novas opções nas livrarias.
Danny Marks: O que falta no mercado literário brasileiro?
Leitores. E para atrair leitores, precisamos mudar o conceito de que livro nacional é ruim e que os estrangeiros são bons. Temos e sempre tivemos bons escritores, grandes autores que merecem nossa admiração.
O problema é cultural e acontece na música e no cinema também. Por mais que se façam feiras, grandes feiras, falta uma operação conjunta e bem trabalhada entre o MinC, editoras, livrarias físicas e digitais e autores, num único objetivo, atrair leitores. Não só atrair para que ele leia um livro ou dois, ele precisa gostar, mostrar interesse e divulgar entre seu círculo de amigos e na família e, assim será um eterno leitor. É uma utopia, um trabalho de formiguinha. Tenho consciência de que minha parte eu estou fazendo. Mas não basta, eu quero mais.
Gérson Prado: Acredita que o processo criativo é livre? E assim sendo, se preocupa em agradar ao leitor ou deixa fluir?
O processo criativo é livre. Eu não escrevo por encomenda e fico travada se tiver que escrever sobre um assunto específico ou solicitado por alguém. Mesmo os textos literários, para divulgações, revista ou jornal, eu tenho a liberdade de escolher o tema e o texto é livre. Agradar ao leitor… é uma sensação ambígua. Quem garante que o leitor quer sempre o mesmo gênero, final feliz ou trágico, sempre a mesma linha literária que já está acostumado? Já escrevi sobre isso, da dúvida de que poderia ser esse o problema da falta de leitores. Estão cansados de narrativas semelhantes e finais felizes… Acho que os leitores querem novidades, querem ser surpreendidos.
Pedro Costa: Uma vez que você identificou algo negativo na vida de escritor, como combater ou não se permitir ceder a tal negatividade?
Eu escolhi viver a literatura. Não confundir com viver de literatura, porque aí, é apenas uma minoria que tem esse privilégio. Quando eu entrei na internet, leia-se, redes sociais, para promover o meu livro, não pretendia ficar. Eu seria autora de um livro apenas, depois seguiria a minha vida… Só que aí eu fui agarrada pela literatura, pela interação com autores e poetas, do Brasil e de Portugal. E de repente eu estava escrevendo poesia, e eu nem gostava de poesia, aí surgiram os contos e crônicas, concursos, fiz amigos e não pude mais sair. Então, criei regras. A começar que eu precisava de uma renda, nem que fosse uma ínfima renda, para poder abandonar o meu trabalho e mergulhar na literatura. E aí comecei a revisar para outros escritores, com a ajuda do meu filho. Eu tive problemas no início, confiava nas pessoas e a falta do olho no olho gerava muitos problemas…E o que parecia bom, não era. Então, precisei de disciplina, escolha e foco, sem dó nem piedade.
Milton Xavier: Numa tarde ou noite de autógrafos, e imaginando uma fila de leitores ávidos pelo seu autógrafo, o que faria se um deles não parasse de perguntar coisas sobre o livro, atrapalhando o caminhar da fila?
Com certeza, eu diria para respeitar as pessoas e a fila e que deveria aguardar a sua vez. Nada justifica falta de educação e desrespeito com os outros. E não tenho problemas em chamar a atenção de alguém que está sendo inconveniente. Afinal, a estrela ali é o livro e não ele!
Milton Xavier: Se uma criança lhe perguntar o que é preciso para escrever um livro, o que responderia?
Que antes de começar a escrever deveria ler muitos livros. Também jornais e revistas, fazer palavras-cruzadas para ampliar o vocabulário. Estudar com afinco e ir praticando através das redações e trabalhos escolares. E também que guardasse tudo o que escrevia, que poderá ser importante lá na frente.
Também a convidaria para participar do Concurso de Textos Infantojuvenil.
Carla Póvoa: Como lidar com a situação quando alguém vem opinar na história narrada? Bom, porque atingiu a nuance de ver seu leitor entrar na sua história a ponto de opinar sobre ela? Ou ruim porquê sentiu que não satisfez seu leitor?
Desculpem se pode parecer arrogante, mas eu gosto do que escrevo. Não tenho a pretensão de satisfazer ninguém. Eu espero que o leitor sinta a emoção que eu transferi para o texto, mas isso pode não acontecer pois cada pessoa é única, aí, paciência, perdi um leitor, mas jamais mudaria meu texto por causa disso. Já aconteceu, já recebi opiniões das mais diversas, houve até uma pessoa que eu perguntei o que tinha achado da narrativa e ela disse: que não gostava muito desse lambe-lambe… Confesso que fiquei chocada! Porque eu sou romântica, assim como os meus escritos, e o que me chocou, não foi ela não ter gostado do livro, mas do conteúdo erótico/romântico. Aí ela acabou dizendo que não viveu aquilo ali e tal.
Carla Póvoa: Pensa que seguir um único estilo é mais viável? Ou passear entre eles não atrapalha sua visibilidade enquanto escritor?
O meu fio condutor é o amor, romantismo, o erotismo, que estão relacionados. Assim como não existe amor sem sexo. Então falar disso, de uma forma romântica é agradável e adulto… Gosto muito dos textos literários, posso passear por vários assuntos do interesse dos autores, faço críticas e dou sugestões. Procuro me ater aos assuntos que conheço bem.
Leio muito e de tudo um pouco.
Pedro Costa: Como você lida com uma crítica quando sabe que ela é injusta?
Fico furiosa. Posso não comentar a minha indignação, mas dependendo da forma como é escrito o comentário, vou questionar. Ou, em determinados casos, ignoro a pessoa. Um autor, certa vez que sugeri a Leia Livros para impressão do seu livro, visitou o site e escreveu que era horrível… Fiquei indignada e questionei. Foi extremamente mal educado e acabei excluindo-o do perfil.
Cristina Cimminiello: Você comenta ou curti quando um leitor opina sobre o livro que você escreveu?
Sempre. Eu fico constrangida com elogios, mas enche meu coração de alegria. Estou sempre envolvida com muitos autores e é sempre muito bom receber um obrigado, um carinho. Mesmo quando não se trata dos meus escritos.
Fernando Mello: Se você pudesse resumir sua história em um símbolo, qual seria?
Posso resumir em dois? Margaridas: que fazem parte da minha vida, desde a infância e é amor, paixão, saudade e costumo comprar tudo com a simplicidade da flor. E o outro, um cartaz de Proibido Fumar: A literatura não existiria na minha vida se eu não parasse de fumar. Ela estava lá, escondida na nuvem de fumaça que habitava meu íntimo.
Ironi Jaeger: Qual o propósito da leitura na sua vida?
Conhecimento. Adquirir conhecimento, atualização do conhecimento já existente. Não podemos parar nunca, ainda mais nos tempos atuais, do mundo globalizado em que tudo muda, altera-se num piscar de olhos. E alguns até podem perguntar: para quê? Mudar o mundo, eu poderia responder… Mas, na verdade, ajudar a mim, os amigos, as pessoas de um modo geral e, isso é viver em sociedade, ser solidário, fazer a diferença na vida de alguém, ser feliz. Porque a generosidade nos faz felizes. E se pudermos mudar a vida de alguém através desse conhecimento… é ganhar na loteria!
Ironi Jaeger: Qual seu próximo passo na Literatura?
Eu tenho a Laura, a Nora e a Teresa trancadas numa janela (tipo uma gaveta no meu computador)… Sempre que uma delas aparece na minha mente, reclamando que a abandonei, vou lá e escrevo alguns capítulos. Não sei quando vou concluir e muito menos lançar os livros. Com o trabalho na Leia Livros e outras atividades, não tenho tempo para a dedicação que elas merecem. Estou reunindo meus contos e devo inserir uns três ou quatro novos que ainda escreverei e vou editar um livro… já selecionei a capa e o título. Pensando também em reunir os textos literários que publico na Revista Divulga Escritor e nas redes e quem sabe, editar uma coletânea.
Elizabeth de Salles: Qual conselho você daria para quem está começando a carreira de escritor?
Ler muito. Livros, jornais, revistas e até bula de medicamentos. Também recomendo fazer palavras-cruzadas, que é excelente para ampliar o vocabulário. Não queira virar celebridade, pois você não será nunca! Seus livros, sim! Os grandes autores são lembrados pelos seus escritos, suas narrativas perfeitas e apreciadas por muitos leitores. Narrativas fortes e marcantes que se perpetuam pela eternidade. Se eu não chegar lá com meus escritos, quem sabe, chegarei levando alguém pela mão. Também será muito bom!
Entrevista para FLAL Festival de Literatura e Artes Literárias de 2018
Publicada em 11/10/2018 14h